25 outubro 2006

The Blind Men and the Elephant

by John Godfrey Saxe

It was six men of Indostan
To learning much inclined,
Who went to see the Elephant
(Though all of them were blind),
That each by observation
Might satisfy his mind

The First approached the Elephant,
And happening to fall
Against his broad and sturdy side,
At once began to bawl:
"God bless me! but the Elephant
Is very like a wall!"

The Second, feeling of the tusk,
Cried, "Ho! what have we here
So very round and smooth and sharp?
To me 'tis mighty clear
This wonder of an Elephant
Is very like a spear!?

The Third approached the animal,
And happening to take
The squirming trunk within his hands,
Thus boldly up and spake:
"I see", quoth he, "the Elephant
Is very like a snake!"

The Fourth reached out an eager hand,
And felt about the knee.
"What most this wondrous beast is like
Is mighty plain",? quoth he;
"'Tis clear enough the Elephant
Is very like a tree!"

The Fifth, who chanced to touch the ear,
Said: "E'en the blindest man
Can tell what this resembles most;
Deny the fact who can
This marvel of an Elephant
Is very like a fan!"

The Sixth no sooner had begun
About the beast to grope,
Than, seizing on the swinging tail
That fell within his scope,
"I see", quoth he, "the Elephant
Is very like a rope!"

And so these men of Indostan
Disputed loud and long,
Each in his own opinion
Exceeding stiff and strong,
Though each was partly in the right,
And all were in the wrong!

The Hindustan Elephant...
Moral:
So oft in theologic wars,
The disputants, I ween,
Rail on in utter ignorance
Of what each other mean,
And prate about an Elephant
Not one of them has seen!

20 outubro 2006

Tanja Rinas

De José Craveirinha
(publicado originalmente em www.terravista.pt/Bilene/1418/entrada.html, por Elsa Dionísio, c. 2002).

I
Serão palmas induvidosas todas as palmas que palmeiam os discursos dos chefes?
Não são aleivosos certos panegíricos excessivos de vivas?
Auscultemos os gritos vociferados nos comícios,
E nas bichas são ou não são bizarros os sigilosos sussurros?
Em suas epopeias de humildade deixam intactos os sonhadores.
Sabotagem é despromover um verdadeiro poeta em funcionário.
Não bastam nos gabinetes os incompetentes?
Ainda mais alcatifas e ares condicionados?
Aos dirigentes máximos poupemos os ardilosos organigramas.
Como são hábeis os relatórios das empresas estatizadas
Prosperamente deficitários ou por causa das secas
ou porque veio no jornal que choveu a mais
ou por causa do sol ou porque falta no tractor um parafuso
ou talvez porque a polícia de trânsito não multou Vasco da Gama infringindo os códigos
na rota das especiarias de Calicute.
E os nossos tímpanos os circunjacentes murmúrios?
Não é boa ideologia detectar na génese os indesmentíveis boatos?
Uma população que não fala não é um risco? Aonde se oculta o diapasão da sua voz
E quanto ao mutismo dos fazedores de versos? Não sai poesia será que saem
nos verões crepusculares dos bairros de caniço augúrios cor-de-rosa?
Quem é o mais super na meteorologia das infaustas notícias?
Quem escuta o sinal dos ventos ante da ventania e avisa?

II
Na berma das avenidas asfaltadas de lixo olhemos perplexos
os sarcásticos prédios por nós escaqueirados. Não dói?
Nas escolas é maningue melhor partirmos as carteiras e estudar no chão?
E nas fábricas que mãos são estas nossas proletárias mãos que só desfabricam?
Mas nesta colmeia muita atenção ao mel das abelhas aduladoras.
E o que é que se passa com o engordecido responsável
sempre a mandar-se em missão de serviço nos melhores hotéis das Europas?
Ou no espólio no saco cheio
vale mais a carência nacional do que ter sido um pide
vale ou não vale nosso esperto milícia Fakir?

Tangerinas








III
Que os camionistas heróis dos camiões emboscados a tiro nas viagens
tragam as saborosas tanjarinas d'Inhambane ao custo das ciladas
mas descarreguem primeiro nos hospitais nas creches e nas escolas
que o futuro do País também está na doce doçura das tanjarinas d'Inhambane
e o poder sobrevive na força de um povo com tabelas de amor e não de preços.
Mas os auspiciosos cajus purpurinos já não nos dão tincarôsse porgi
Especular a pátria não é guiar a viatura nova contra os muros e os postes?
Ilegalidade só é ilegalidade nos outros? Quizumba só é quizumba no mato?
Então juro que tanjarina d' Inhambane é tanjarina de Moçambique.
Eu adoro trincar voluptuosamente os sumarentos gomos da tanjarina d'Inhambane.
E desde leste a oeste quem não gosta das saborosas tanjarinas d'Inhambane?
Então os que abjuram os sagrados frutos da terra façam lá mulher e filhos.
Façam lá um pai e uma mãe. Façam lá tios e sobrinhos. Façam lá uma família.
Façam lá irmãos e irmãs. Façam lá amigos e amigas. Façam lá colegas e camaradas.
Façam lá com a incompreensão ternura amor e paz se são capazes!

IV
As orientações de alguns directores desorientam os juízes... (de'es também)
Mas quem disse que não tenho pena dos conjuntos safaris embrulhando-os
fresquinhos e sem problemas de suores originários deste instável clima tropical?
Quem disse que não lamento vê-los penosamente dos "Ladas" com suas poses
as incalejadas mãos deles sem aguentarem sequer abrir-se a porta
e assentados esperem que seja o motorista irrevogavelmente
dê a volta ao mundo do fatalismo e cumpra ainda hereditariamente essa tarefa?
Quem é que disse que não tenho pena? Quem disse que não sinto este drama?

V
Depressa você Madalena vai bichar lenha deixa bicha de carapau.
Vóvó fica bichar na comprativa amanhã tem arroz.
Titia sai na bicha de capulana vai bichar pão.
Toninho com Quiristina vai bichar água.
Sexta-feira antepassada mamana Júlia dormiu lá mesmo.
Bichou toda a noite no Jone Uarre mas chegou vez... nada!
Aontem tomar chá não tomou... foi no serviço.
Aoje não toma vai tomar amanhã.
Não toma amanhã toma a outro dia.
Ou quando encontra toma de noite.
E quando não toma de noite então dorme.
Mas quando sonhar amendoim já tomou chá e já comeu.

VI
A gente faz favor quer cascar com unha de dedo grande as tanjarinas d'Inhambane.
Olha lá! Você estás cansada da tua terra? Salta arame... vaiaaaiii...
Você não gosta bandeira? Leva documento... famba!!!
Antigamente 'panhava mais fome mas não ficava aqui?
Antigamente era palmatoada. Não estava? Não ia na estiva?
Antigamente sapato não era corrente de ferro? Agora só quer "Adidas" não é?
Antigamente sentava no xibalo. Agora senta no Scala não senta? Mas quem deu?
Antigamente escrevia nome? Aonde? Capaz? Agora manda carta no jornal p'ra dizer
que pão não presta.
Antigamente encontrava passaporte? Agora não 'panha passaporte fica triste.
Fica muito zangado. Faz barulho. Antigamente não era só caderneta?
Sim, agora come carapau. Não é peixe? Batata doce e mandioca não é comida?
Nossa barriga alembra bife com batata frita e azantona. Alembra bacalhau
mais grelos e aquele azeite d'oliveira com vinho tinto de garrafão lacrado.
Mas nós tinha isso quando queria ou quando restava? era nossa casa? Qual casa?
Lá naquela casa a gente puxava otoclismo p'ra nosso cu p'ro cu dos outros?
Vá! Fala lá! A gente não ficava de cócoras na sentina. A gente tinha mais o quê?

VII
É verdade chuva na machamba não chove. Mas a gente espera. Chuva vai vir.
É verdade a gente come couve com couve carapau com carapau farinha com farinha
Mas senta na nossa mesa. Toda a família senta em casa no prédio. Amigo também senta
Ir embora não voltar mais? Não pode. Deixar aqui. Ir aonde? Capaz!
Mudar moçambicano ficar o quê? Mudar a cara ficar qual cara?
Fugir há outro que vai fugir. Moçambicano próprio não foge.
Quando homem é homem é só um coração. Não é dois.

VIII
Mesmo quando não tem senha de gasolina não faz mal. Não há crise. Candonga tem.
Mas quem disse que aquelas saborosas tanjarinas d'Inhambane não vem mais?
É preciso, nós vamos fazer estratégia de mestre Lénine
e vamos avançar duas dialécticas cambalhotas atrás
moçambicanissimamente objectivas
concretissimamente bem moçambicanas.

IX
Agora alerta camarada Control. Vem aí o camião com tanjarinas d'Inhambane.
Tira o dedo do gatilho e faz um aceno d'alegria aos estoico motorista.
Ganha metical mas desde Inhambane, desde Chai-Chai, desde Manhiça
ele está a guiar mas ele só sabe que chegou quando está a chegar.
Camarada Control: Aldeia é aldeia não é vila.
Camarada Control: Vila é vila não é cidade.
Camarada Control: Cidade é cidade não é distrito.
Camarada Control: Distrito é distrito não é província.
Camarada Control: Província é província não é nação.
Camarada Control: Control é Control não é Governo.
Camarada Control: nosso território nacional é desde o primeiro grão d'areia em Cabo
Delgado até ao último milímetro na Ponta D'Ouro.

X
Camarada Control: Abre o teu mais fraterno sorriso no meio da estrada
e deixa passar de dentro para dentro de Moçambique
nossas preciosas tanjarinas d'Inhambane.
Agora casca uma tanjarina e prova um gomo mais outro gomo.
É doce ou não é doce Camarada Control?
Pronto!
Muito obrigado Camarada Control!
E viva as saborosas tanjarinas d'Inhambane!!!
VIVA!!!

José Craveirinha
(1982-84)
Cidade do Maputo

13 outubro 2006

Alma Ausente

De Federico García Lorca (1898 - 1936)
Llanto por Ignacio Sánchez Mejías, 1935
[Publicado a 12-08-2006, em www.publico.clix.pt/poemas; último acesso, 13-10-2006]

No te conoce el toro ni la higuera,
ni caballos ni hormigas de tu casa.
No te conoce el niño ni la tarde
porque te has muerto para siempre.

No te conoce el lomo de la piedra,
ni el raso negro donde te destrozas.
No te conoce tu recuerdo mudo
porque te has muerto para siempre.

El otoño vendrá con caracolas,
uva de niebla y montes agrupados,
pero nadie querrá mirar tus ojos
porque te has muerto para siempre.
A portrait in blue by an unknown child...
Porque te has muerto para siempre,
como todos los muertos de la Tierra,
como todos los muertos que se olvidan
en un montón de perros apagados.

No te conoce nadie. No. Pero yo te canto.
Yo canto para luego tu perfil y tu gracia.
La madurez insigne de tu conocimiento.
Tu apetencia de muerte y el gusto de su boca.
La tristeza que tuvo tu valiente alegría.

Tardará mucho tiempo en nacer, si es que nace,
un andaluz tan claro, tan rico de aventura.
Yo canto su elegancia con palabras que gimen
y recuerdo una brisa triste por los olivos.