31 julho 2006

Acordar tarde

o rio parado

de Al Berto
[Publicado originalmente em Horto de Incêndio; http://www.terravista.pt/PortoSanto/2244/ (último acesso, Setembro de 2002). Hoje, ainda há quem goste disto: Tabacaria, por Elvira]

tocas as flores murchas que alguém te ofereceu
quando o rio parou de correr e a noite
foi tão luminosa quanto a mota que falhou
a curva - e o serviço postal não funcionou
no dia seguinte

procuras ávido aquilo que o mar não devorou
e passas a língua na cola dos selos lambidos
por assassinos - e a tua mão segurando a faca
cujo gume possui a fatalidade do sangue contaminado
dos amantes ocasionais - nada a fazer

irás sozinho vida dentro
os braços estendidos como se entrasses na água
o corpo num arco de pedra tenso simulando
a casa
onde me abrigo do mortal brilho do meio-dia